Reportagem Especial 5i4v62
Publicada no Jornal Terceira Via
Prefeito Wladimir Garotinho:
equilibrar as contas foi a base para retomar crescimento
Prefeito aposta em novo ciclo de prosperidade a partir de projetos estruturantes ligados à logística e mobilidade
Autor do texto:
GUILHERME BELIDO ESCREVE POR GUILHERME BELIDO 19 DE DEZEMBRO DE 2021 – 0h01
O prefeito Wladimir Garotinho está completando o primeiro ano de mandato e, salvo por um olhar extremamente severo – dir-se-ia até injusto – de maneira positiva. Afinal, assumiu o governo em pleno avanço do coronavírus, o que exigiu prioridade e esforços concentrados no combate à doença que se avolumava e que 2–3 meses depois atingiria o momento mais dramático de toda a pandemia, quer em Campos, quer no Brasil inteiro.
Muito embora não seja esse o eixo da matéria, que não objetiva analisar a istração – o que exigiria ouvir representantes e/ou especialistas em educação, saúde, transportes, saneamento, etc – a finalidade é de lançar uma visão basicamente política e de longo prazo, sem se aprofundar em nenhuma questão isolada, mas global – como mais adiante o leitor verá. Contudo, focalizar a pandemia logo de início explica-se pelo aterrorizante nível de dificuldade, sem precedentes, imposto aos governantes brasileiros.
Portanto, o ‘de maneira positiva’ citado acima, longe de ser gratuito e tampouco elogioso, visa sublinhar que o citado período remete à maior crise sanitária e humanitária dos últimos 100 anos e bem mais devastadora que a Gripe Espanhola. Tanto que o governo decretou lockdown parcial com menos de três semanas (para alguns, deveria tê-lo feito já no primeiro dia) e fechamento total em fins de março, quando o município registrou mais de 10 óbitos em 24 horas e alarmante número de casos. Isso, em meio à fila de espera por leitos de UTI que ultraou 50 pessoas.
Além do mais há que se considerar que naqueles primeiros meses de tempestade perfeita, a aceleração do vírus andara de braços dados com a estagnação econômica provocada pelo fechamento do comércio e de outras atividades econômicas que tiveram que parar na tentativa de reduzir o contágio. Logo, foram duas frentes de crise difíceis de serem enfrentadas.
Assente-se, as observações aqui feitas são subjetivas e não se arvoram na pretensão de verdades absolutas. Contudo, a despeito do efeito devastador da pandemia em seu período mais agudo, ao executivo coube, paralelamente, pagar os salários atrasados de dezembro (não havia dinheiro em caixa) e 75% do 13ª; reabrir o Restaurante Popular, viabilizar dinheiro novo, atender as demandas mais urgentes e cuidar do dia-a-dia do município.
Entretanto, como errar também faz parte do cardápio, o prefeito errou na adoção de certas agendas, voltou atrás e fez ajustes; errou ao provocar aglomeração reinaugurando o Restaurante Popular (pediu desculpas); errou ao escrever “(….) Sabe o que acontece agora? Demissão do Servidor” – em seguida, corrigiu. Enfim, cometeu enganos como quaisquer istrações as cometem e tomou decisões polêmicas, como o IPTU retroativo e a “Vaga Certa”, entre outros.
Seja como for, afigura-se visível que Wladimir Garotinho, 36 anos – que interrompeu seu primeiro mandato como parlamentar para assumir a Prefeitura –, esteja trabalhando de forma incansável para fazer o melhor.
Reproduzindo frase já publicada aqui, cujo sentido tomei emprestado de antigo texto da jornalista Dora Kramer, Wladimir luta para retirar as âncoras que prendem a cidade ao fundo e criar molas que a levem ao alto.
Como mencionado na longa introdução, o presente texto não tem o intuito de aferir se as ruas da cidade estão bem ou mal iluminadas, se os buracos aumentaram ou diminuíram, ou se a limpeza pública está ou não funcionando a contento – muito embora esses e uma infinidade de outros temas sejam de singular importância para a população.
Voltando ao fio da meada… estamos a falar de um novo ciclo desenvolvimentista, de virar a chave, lembrando que grandes dificuldades podem significar, também, janelas de oportunidades.
Como quase tudo na vida é cíclico, Campos não foge à regra: experimentou, ao longo de sua história, períodos de abastança e de escassez; de prosperidade e de declínio; de avanços e de recuos. Contudo, exceto por ado muito, mas muito distante – cujos vácuos documentais levam à imprecisão – não se tem notícia, ao menos da metade do século ado para cá, de período de tamanho infortúnio, evidente que levando em conta o próprio processo evolutivo de qualquer cidade ou região.
Mas não. O que se deseja mirar projeta-se numa plataforma de horizonte bem mais extenso, qual seja da circunstância de Wladimir ter assumido o município num dos piores momentos de sua história – talvez o pior – e, a depender de uma série de fatores, ‘entregá-lo’ em situação diametralmente oposta.
Antes, um parêntesis: a adversidade econômico-social que nos últimos anos vem assolando o município não é fruto do governo ‘X” ou “Y” e tampouco começou há 5 ou 10 anos. Com efeito, é a soma de istrações equivocadas – umas mais que outras, naturalmente – em que o mau aproveitamento dos royalties, associado à queda de receita de tempos recentes, ‘deu no que deu’. Mas, ao ado, o ado.
Altos e baixo da Planície Goitacá
Cabe destacar que desde os tempos de Vila, anos 1.600, Campos já exibia pujança econômica graças à terra plana que favorecia a agricultura, os engenhos de açúcar e à pecuária leiteira e de corte.
Assim, dinheiro e nobreza se juntaram e o desenvolvimento atravessou épocas, quer nos idos de colônia, de império (período em que Campos conquistou status de município, em 1835), quer nas décadas iniciais da república. Com projeção nacional, voou ainda mais alto na transição dos ricos engenhos de açúcar para as modernas unidades açucareiras, já no século 20.
Queda e recuperação – Mas a monocultura do açúcar cobrou seu preço. A partir dos anos 60 o declínio bateu à porta, não tardando para o setor entrar em decadência, seguido do revés político da Fusão GB-RJ (1975). que atingiria Campos em cheio.
Anos mais tarde a cidade retomava o caminho da prosperidade através da expansão da construção civil, do polo de ensino que se formava e do crescimento do comércio a partir dos shoppings.
Logo adiante a Era dos royalties, que em tese traria a efetiva redenção do município, financiando uma estrutura sem precedentes, simplesmente esvaiu-se por entre os dedos. Oportunidade perdida, dependência e queda no ree nos custaram um alto preço.
Agora, vislumbra-se a possibilidade de nova virada de 180º. Por ora, apenas uma possibilidade, que impõe amarrar todas as pontas e alguns anos. Mas, se as circunstâncias conspirarem a favor, trata-se de oportunidade que daria a Wladimir Garotinho a chance de fazer história na política de Campos.
TENSÃO & DIÁLOGO | Com apenas três semanas de governo, Wladimir não se furtou a ir à porta do Cesec conversar com um grupo de servidores que protestavam contra os salários atrasados. Um gesto não muito comum, mas que pacificou a situação diante do compromisso de uma agenda de pagamentos que foi cumprida
O que ele disse
O texto desta página-dupla é confessadamente atípico, visto que as perguntas-respostas não ocupam mais que cerca de 1/3 do espaço. Longe de uma entrevista convencional, apenas ‘acomoda’ estreito bate-pronto, cuja essência está em deixar no retrovisor os tempos difíceis e apostar num para-brisa que descortine desenvolvimento para o município e qualidade de vida para sua gente.
Terceira Via – O senhor disputou o primeiro cargo eletivo aos 33 anos. Tendo ado a vida inteira imerso em ambiente político, não ter começado antes foi estratégico – a escolha do melhor momento – ou não estava em seus planos ingressar na política?
Wladimir Garotinho – Só me envolvi com política em 2008 na eleição da minha mãe para a Prefeitura de Campos. Foi a partir daquele momento que vi de perto como a política é capaz de transformar vidas e, por isso, resolvi ingressar na militância.
A pandemia foi o problema mais grave no rol de dificuldades em que encontrou o município. A se confirmar a queda da Covid (se nenhuma variante vier recrudescer o vírus) qual será a prioridade nº 1 para 2022? Ou seja: de todos os setores, qual necessita de ações mais urgentes?
A pandemia foi um desafio globalizado, mas Campos soube tomar as medidas certas no tempo certo e por isso superamos melhor que outras cidades. Além da pandemia o outro grande desafio era o equilibro das contas, que também já foi conquistado neste primeiro ano. A meta daqui por diante é melhorar a qualidade de vida do cidadão, pra isso iremos incrementar ações em várias frentes diferentes.
O servidor está há mais de 5 anos sem reajuste salarial com severa perda de poder aquisitivo. Como a queda de receita desacelerou em 2021 (houve mês em que os royalties cresceram 281% do valor pago no mesmo período de 2020) o funcionalismo pode esperar por um aumento no próximo ano?
Não tem como comparar o ano de 2020 com nada. Ele não pode ser referência, pois a economia global esfarelou pelo efeito Covid. Se buscar os anos anteriores, por exemplo 2018, a arrecadação foi superior ao que arrecadamos este ano. Estou atento à questão do funcionalismo – que vem acumulando perdas nesses anos de inflação – e sensível à necessidade de reajuste assim que possível. Mas essa é uma situação que precisa ser debatida com responsabilidade. Existe determinação de não se usar mais nenhum centavo de royalties para pagamento dos salários e a receita própria atual não cobre esse custo. Conseguimos um TAC com o Tribunal de Contas que nos deu folga momentânea, mas tem data pra acabar.
O Mercado Municipal completou um século com aspecto deplorável: cercado por tapumes. Por sua relevância histórica e econômica, é uma vergonha que exiba tal aparência. Que planos o executivo tem para reincorporar o MM à vida do campista e qual seria o tempo razoável?
É algo que muito me entristece. Um patrimônio dessa importância para nossa cidade, envolvido há anos em obra inacabada. Além do que, é o espaço mais democrático, onde a população encontra preços mais em conta. Estamos debruçados estudando um projeto para o Mercado, levando em conta as questões legais ligadas ao patrimônio histórico. É um problema antigo e que não tem solução rápida. Mas está no nosso radar de atuação resolvê-lo o quanto antes.
Os frutos não virão agora, mas a Petrobras anunciou investimento na Bacia de Campos de R$ 16 bilhões. Seria essa a pedra angular que devolveria ao município os tempos áureos?
Não. O que vai colocar o município em um novo ciclo de desenvolvimento será investir em projetos estruturantes ligados à logística e mobilidade. Com a proximidade do Porto do Açu e suas infinitas perspectivas, ou planejamos agora ou estaremos fadados ao colapso.
Ao citar “projetos estruturantes ligados à logística” significa que o antigo rótulo que coloca Campos como município de perfil eminentemente agropecuário foi superado pela vanguarda do século 21?
Nossa vocação agrícola é forte e ainda de significativo potencial, porém ligada historicamente à monocultura da cana. Precisamos diversificar e aproveitar nossa privilegiada localização para nos tornar um polo logístico para grandes empresas.
O Estado tem pautado vários projetos para o interior. Ainda agora o HGG será restaurado com aplicação de R$ 16 milhões do executivo estadual. Que demanda o senhor vê como preferencial a ser levada ao governador com impacto direto na qualidade de vida da população?
Eu entendo sua ansiedade em saber se este ou aquele projeto vai chegar antes. Mas veja: a prefeitura já apresentou 21 projetos ao Estado e ainda vai apresentar mais, quase todos ligados à infraestrutura e saneamento. Então são todos igualmente importantes porque, conjuntamente, geram empregos de forma rápida e aumentam a circulação de capital. Assim, a soma de todos objetiva chegar na ponta, elevando sobremaneira a qualidade de vida das pessoas. Esse é o nosso norte.
Para uma reversão total de quadro, com ações em todos os setores, 4 anos não são suficientes. Estamos a falar de transformação que exige tempo. A reeleição está no radar ou o senhor vai para a costumeira resposta protocolar?
Tenho projeto político, portanto penso sim em pedir ao povo uma nova oportunidade caso o trabalho em curso esteja sendo bem desenvolvido.
Somando os 4 mandatos de seus pais, o seu é o quinto, podendo chegar ao sexto. Nenhuma família governou tantas vezes a cidade de Campos. Essa circunstância favorece, dificulta ou faz emergir o peso da responsabilidade de cobrar sempre mais de si mesmo?
Vale lembrar que os mandatos da minha família foram intercalados com gestões de opositores e isso fez com que muitos projetos desenvolvidos não tivessem continuidade e fossem interrompidos. Com todas as críticas, normais na vida pública, ninguém fez mais por essa cidade do que o nosso grupo. Sobre a responsabilidade a resposta vem com uma reflexão: somos a maior cidade do interior, do segundo estado mais forte economicamente do Brasil.
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Informações: Jornal Terceira Via